Crítica | Entre acertos, o melhor de O Esquadrão Suicida é a direção

Prestes a marcar presença na San Diego Comic-Con em 2018 para divulgar o filme que produzia, Brightburn – Filho das Trevas, James Gunn deparou-se com seu nome em manchetes e enfrentou o cancelamento online por conta de alguns tweets ressurgidos com piadas consideradas insensíveis de quase uma década anterior. Mesmo arrependido e pedindo desculpas publicamente, a Marvel Studios respondeu imediatamente sobre o assunto demitindo-o do cargo de diretor do terceiro volume da franquia que o tornou altamente reconhecido, Guardiões da Galáxia. Com muitos fãs expressando seus sentimentos de descontentamento com o estúdio, por entender que todos mudam e aprendem, ainda mais por se tratar de mensagens publicadas quase dez anos antes, a Warner Bros. não perdeu tempo em contratar o artista para alguma produção da DC Comics. A nova casa estava tão disposta a recebê-lo que não o limitou no processo criativo e ainda o permitiu escolher o projeto que gostaria de desenvolver. Assumindo riscos, Gunn escolheu talvez uma das opções mais desafiadores, dar uma nova chance ao Esquadrão Suicida, que havia lançado um longa-metragem que recebeu grandes críticas negativas dois anos antes. Vale ressaltar que após isso, a Marvel o contratou de volta para o trabalho que já estava em desenvolvimento e mais um especial para seu streaming.

Três anos e uma pandemia em curso depois, James está pronto para entregar uma de suas melhores obras e presentear o público, colhendo uma boa recepção e desfecho de uma história que começou como um filme de terror, ou melhor, na produção de um filme de terror. Em alguns anos, essa parte provavelmente não será mais lembrada, mas ao olhar para trás, com certeza Gunn estará entre os principais nomes que terão definido o gênero de ficção científica, super-heróis e terror nas décadas 10 e 20.

Não se engane, a maior estrela do filme não é Margot Robbie, Idris Elba ou John Cena, é James Gunn, que também assina o roteiro. Seu olhar autêntico e pensamento “fora da caixa” tem sua marca registrada com comédia, horror, sadismo, sangue e muita violência. A bela fotografia, a cargo de Henry Braham, que também trabalhou com Gunn em Guardiões da Galáxia Vol. 2, o transporta para dentro da tela que explode e choca desde o início em uma batalha na praia da ilha fictícia de Corto Maltese. O lado sombrio da DC Comics encontra seus momentos na tela, mas as cores e humor estão presentes o tempo todo e deixa sua marca registrada como em uma história em quadrinhos, seja pelos títulos implementados dentro das cenas ou mesmo por animações em 3D e 2D. James utiliza de suas melhores experiências em Guardiões da Galáxia e Dia de Trabalho Mortal como referência.

Muitas vezes questionado ao longo dos últimos anos se a produção seria uma sequência de 2016 ou uma nova versão, o diretor sempre respondia “essas são as minhas únicas opções?”, e pela obra final é possível notar que ele deixou aberto para qualquer interpretação. A trama esclarece desde o início que Arlequina (Margot Robbie), Capitão Bumerangue (Jai Courtney) e Rick Flag (Joel Kinnaman) já se conhecem de missões anteriores, sem especificar os eventos, assim como para Flag e Amanda Waller (Viola Davis).

Outra façanha do cineasta no longa é conquistar o mérito de que atores podem trabalhar em projetos paralelos para estúdios “rivais”, caracterizados como heróis ou vilões, e não perder suas identidades em ambos, como é o caso para Idris Elba, David Dastmalchian, Sylvester Stallone, Michael Rooker, Sean Gunn, Taika Waititi e até Pom Klementieff, que aparece sorrateiramente em uma tomada sem ser creditada.

O filme começa com uma cena do Sábio (Michael Rooker) na prisão Belle Reve, atirando uma bolinha de tênis friamente calculada para matar um pássaro. Pouco depois, é um pássaro que pousa sobre seu crânio explodido para se alimentar, quase como uma metáfora pela qual o roteirista passou ao ser banido e reiterado da indústria cinematográfica em tão pouco tempo.

A história é simples e objetiva, a Força Tarefa X, nome dado ao grupo de vilões com explosivos implantados no crânio sob o comando de Amanda Waller, deve ir a ilha de Colto Maltese, que sofreu um golpe de estado recentemente, e destruir o Projeto Estrela-do-Mar antes que caia nas mãos erradas. Na ilha eles se depararão com inimigos, forças armadas e grupos de guerrilha, enquanto cada lutará por suas causas, os anti-heróis ainda terão que lidar com o alienígena estudado no projeto. Ninguém está a salvo nesta aventura.

Apesar de ser protagonizado por atiradores, combatentes e uma assassina, quem ganha destaque e o carinho dos espectadores é a millennial Caça-Ratos 2, vivida pela atriz portuguesa Daniela Melchior. O elenco ainda conta com Nathan Fillion, Flula Borg, Mayling Ng, Pete Davidson, Jennifer Holland, Storm Reid, Peter Capaldi, Juan Diego Botto, Joaquín Cosio e a brasileira Alice Braga.

A trilha sonora, mesmo não sendo tão marcante como nos projetos de James para a Marvel, é bem eclética. Vai de Johnny Cash, na abertura, à Drik Barbosa com Gloria Groove e Karol Conká. A cantora Céu também marca presença na lista de músicas utilizadas no longa.

As duas horas e doze minutos passam como um piscar de olhos com tamanho entretenimento. Como um bom filme de super-heróis, ou quase isso, há duas cenas importantes durante os créditos finais, uma no início e outra após o término.

O projeto foi tão bem visto pelo estúdio que uma série derivada com 8 episódios, Pacificador, já foi gravada e será lançada em janeiro de 2022 no HBO Max, protagonizada por John Cena e também dirigida e roteirizada por James Gunn.

O Esquadrão Suicida estreia nessa quinta-feira, 5 de agosto, somente nos cinemas com cópias dubladas e legendadas. Ingressos para a pré-venda já estão disponíveis e a classificação do filme é para maiores de dezesseis anos.

📷 Divulgação, Reprodução / Warner Bros.

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