Crítica l Mais do que narrativa histórica, ‘O Mensageiro’, novo filme de Lucia Murat, se impõe com boa reflexão e contradições da ditadura

O Mensageiro, longa dirigido por Lucia Murat que chega aos cinemas nesta quinta-feira, retrata acontecimentos durante a Ditadura Militar no Brasil, que assombrou o Brasil entre 1964-1985. Apesar dos anos se passarem, infelizmente tais atos de horror e violência evidenciadas no filme, ainda ocorrem nos dias atuais em alguns locais do mundo. Então é bem doloroso de assistir a tudo mostrado nas telas, especialmente porque a diretora, que foi presa e torturada na época, traz um olhar de vivência bem forte e angustiante.

A trama desenvolve histórias de pessoas que foram afetadas naquela época, nos apresentando Vera (Valentina Herszage), aprisionada em um porão de uma fortaleza militar para sofrer tortura física e psicológica por ser uma presa política durante a ditadura, e Armando (Shi Menegat), um jovem soldado que residia no Sul do país, mas acaba indo servir nas bases do Rio de Janeiro. Lá ele conhece Vera e passa a acompanhar de perto todas as atrocidades que ela sofre. Comovido com a situação, Armando se propõe a levar uma mensagem para a sua família, que busca incessantemente o paradeiro da mesma.

O cabo acaba conhecendo D. Maria (Georgette Fadel), mãe de Vera, e os dois constroem uma amizade bem improvável, já que a única coisa que ele pode fazer para ajudar no meio de toda essa repressão, é levar as mensagens, mesmo em meio a todos os riscos. Mas apesar dos horrores do tempo, é bem interessante a possibilidade de diálogo entre uma senhora de alta classe média e um jovem de origem rural, que acabam de fato criando laços afetivos.

De forma fluída, o filme aborda temas que não são muito citados e debatidos, mas sim jogados para debaixo do pano, como forma de esquecimento. Além disso, trabalha também a solidão e a solidariedade em meio a aterrorizante condução da ditadura, por meio de uma mãe perdida dentro de um casamento ilusório, que está em uma agonizante busca de sua filha, e um soldado solitário e perdido, que tem questões morais e não sabe como escolheu servir ao exército em tais condições monstruosas.

O encontro dos personagens se dá por meio de solidariedade e dor. Com cenas que nos possibilita vivenciar raiva, medo e comoção, percebemos ainda que no desenvolver de tanta barbárie, nasce ocasiões de humanidade e bondade. Mas, é claro que não deixa de destacar as questões psicológicas, os conflitos internos e momentos obscuros, pois sempre há um debate interno entre o bem e o mal, além de influências do ambiente em que se ocupa. Essa reflexão é um dos pontos altos do filme!

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