Crítica l Asteroid City debate temas importantes, ainda que exija fôlego para compreensão
Bastante falado em Cannes e com um elenco de peso, Asteroid City chega amanhã (10) às telonas brasileiras, quase 2 meses após estreia nos EUA. Talvez este atraso influencie para acompanhar o hype gringo, já que é algo que foge completamente dos espectadores e da crítica.
Situado numa cidade fictícia de mesmo nome com apenas um café, um posto de gasolina, um motel, um observatório e uma cratera milenar originada da queda de um meteorito, Asteroid City está no meio de um deserto estadunidense e se propõe a contar uma história dentro de outra história, já que o filme nada mais é do que a representação de uma peça teatral do dramaturgo Conrad Earp (escritor fictício interpretado por Edward Norton) – com bastidores exibidos num programa de TV, em cores preto e branco – e possui claramente as divisões de atos, cenas, pausas e volta ao estúdio. Não há o que confundir; ao menos é o que se espera.
O contexto é o mais americano possível para a década de 1950: a obsessão estadunidense pela astronomia, já que o estudo do espaço e, consequentemente, suas revelações eram fundamentais para indicar quem estava à frente de descobertas espaciais da Guerra Fria com a então União Soviética.
Jason Schwartzman dá vida a Augie Steenbeck, recém-viúvo que ainda não contou aos filhos a morte da mãe. Ele está na cidade para levar o filho mega inteligente Woodrow (Jake Ryan) para disputar uma competição acadêmica-científica, uma espécie de feira de ciências de astronomia e matemática, que conta ainda com Dinah (Grace Edwards), cuja mãe é a famosa atriz Midge Campbell (Scarlett Johansson).
Uma série de eventos ocorre assim que eles chegam na cidade. Desde o problema do carro em que estavam – obrigando Augie a ligar para o sogro Stanley Zak (Tom Hanks), nada simpatizante com ele, para ir buscar as icônicas irmãs mais novas de Woodrow –, até a explosão do que seriam testes de bombas bem próximos à Asteroid City, bastante monitorada militarmente. Se não fosse a estética do diretor, roteirista e showrunner Wes Anderson, poderíamos facilmente nos remeter à Oppenheimer e até mesmo a Nope, este último mais pelo cenário e acontecimento alienígena.
Asteroid City é um filme que exige fôlego para compreensão e entendimento do contexto apresentado, neste caso o norte-americano, sobre a questão de extraterrestres, avistamento de OVNIs e os testes com bombas em territórios isolados e desérticos em plena corrida espacial e num momento em que os olhos do mundo estavam voltados para o céu – aqui, ainda sendo metalinguístico, Anderson leva seus personagens a fazerem exatamente isso numa sequência no mínimo bizarra, mas engraçada quando todos estão paralisados avistando a aproximação de uma nave extraterrestre.
No fundo, para além dessas questões, Asteroid City também é um filme que conversa com o espectador sobre reflexões de relacionamentos, amor, sentido da vida; ainda que este possa ser pego de surpresa com o que se passa em tela e que seja cansativo para alguns, que se ficarem tão dispersos, podem perder inclusive a chance de notar a pequena participação do cantor e ator brasileiro Seu Jorge.
Crítico: Caio Santana